janeiro 30, 2014
Notas sobre publicação e palestra de Antônio Paulo Cavalcante: Ordem e Desordem: Arquitetura e Vida Social
Por Juan Diego Maia
Na ocasião do evento GIS Day 2013 – As geotecnologias como
ferramentas de cidadania, que ocorreu no dia 5 de dezembro no Campus do
Pici da UFC, foi ministrada palestra do professor e pesquisador Antônio Paulo
de Hollanda Cavalcante acerca de sua pesquisa de pós-graduação pela Unb
intitulada “A Arquitetura da cidade e
os congestionamentos” publicada no capítulo 5 do livro Ordem & Desordem: Arquitetura & Vida Social (org. Frederico
de Hollanda).
Antônio Paulo inicia a
exposição descrevendo sua formação acadêmica que combina as áreas de Arquitetura
e Urbanismo e Engenharia de Transportes e segue levantando a problemática em
estudo, no caso, os congestionamentos. O problema é frequentemente anunciado
como uma simples tensão entre a escassez de espaço para circulação de veículos
e o crescente aumento quantitativo destes, gerando daí o esgotamento em
diversos pontos da rede viária. Segundo o autor, embora não se reduzam a
essa visão simplista, as interpretações do analista de tráfego e do planejador urbano
em relação a malha viária ainda se mostram limitadas. Por um lado, o analista
parte da informação da demanda para focar na fluidez, concentrando-se em
aspectos de caráter operacional e dinâmico como velocidade dos veículos, tempo
de viagem etc, desconsiderando traçado, forma e organização da malha. Por outro
lado, o planejador concentra esforços na estratificação dos usos no espaço, por
vezes recorrendo ao conceito de zoneamento, associando o funcionamento da
cidade a aspectos estáticos.
Em relação aos
congestionamentos, a visão dominante corresponde a dos analistas dos órgãos
gerenciadores de tráfego, sistematizada, no caso da cidade de Fortaleza, na metodologia
conhecida como Modelo 4 Etapas (ou UTMS).
Modelo 4 Etapas (CAVALCANTE, 2012. p.101) |
Na fase computacional,
processa-se o modelo de demanda, no qual são aferidas quantas viagens , para
onde se destinam e por qual modal de transporte ocorrem. Daí é obtida a
previsão do número de viagens entre cada par de zonas por cada modal em função dos custos de
viagens entre as zonas. Segue-se o
processamento do chamado modelo de oferta, em que ocorre a alocação do tráfego,
identificando por quais rotas ocorrem as viagens.
Por último, obtém-se na Saída
(OUTPUT), uma série de mapas temáticos e planilhas apresentando modelos de
alocação de tráfego, sendo escolhido o mais adequado após a comparação com os
dados reais de volume disponibilizado pelo SCOOT (aplicativo que gerencia em
tempo real os semáforos da cidade). Esse modelo “mais adequado” é eleito então
como válido para o controle de mobilidade.
Antônio Paulo tece uma série
de críticas ao referido modelo, apontadas como limitações metodológicas. O
caráter sequencial e linear na disposição das etapas, funcionando como que
separadas, o tempo e os custos financeiros despendidos com o processamento
desses dados, além da requisição de alto nível de especialização dos analistas
são algumas das limitações operacionais do M4E apontadas pelo autor. Por outro
lado, o modelo “ignora fatores econômicos e populacionais , uso do solo,
valores sociais e comunitarios”, além das implicações da configuração da cidade
nos fluxos e dos pólos geradores de tráfego ¹ (PGVs) durante a etapa de
alocação.
É especialmente focado nesses dois últimos pontos que o autor propõe uma nova metodologia de análise do tráfego, que contemple a influência do desenho urbano, dos atratores e do uso e ocupação do solo sobre a problemática dos congestionamentos, aspectos antes desconsiderados ou tratados superficialmente nos modelos tradicionais. A demonstração da aplicabilidade dessas novas variáveis se dá no estudo de caso realizado com a cidade de Fortaleza, que tem início na identificação dos eixos viários estruturantes da malha, bem como da escolha de uma área específica, chamada Área Crítica (AC), que corresponde a região inscrita no primeiro anel viário, evidenciando-se já de antemão o caráter radial concêntrico da malha.
É especialmente focado nesses dois últimos pontos que o autor propõe uma nova metodologia de análise do tráfego, que contemple a influência do desenho urbano, dos atratores e do uso e ocupação do solo sobre a problemática dos congestionamentos, aspectos antes desconsiderados ou tratados superficialmente nos modelos tradicionais. A demonstração da aplicabilidade dessas novas variáveis se dá no estudo de caso realizado com a cidade de Fortaleza, que tem início na identificação dos eixos viários estruturantes da malha, bem como da escolha de uma área específica, chamada Área Crítica (AC), que corresponde a região inscrita no primeiro anel viário, evidenciando-se já de antemão o caráter radial concêntrico da malha.
Aspectos do Ciclo de Eventos e Efeitos nos Congestionamentos. (CAVALCANTE, 2012. p.104) |
Após o aproveitamento de material
cedido pela Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) no que diz respeito a análise
de demanda de tráfego,o autor dá seguimento à análise da oferta, tomando
partido dos conceitos da Teoria da Sintaxe Espacial ² (S.E.), a partir dos quais
serão aplicadas as variáveis relacionadas a forma e a configuração da malha
urbana. Entre as variáveis escolhidas constam Integração, Profundidade, Escolha, Conectividade e
Interseções (ver conceitos no link sobre S.E).
A partir da medida de Integração
da S.E. foi obtido um mapa de macroacessibilidade da cidade de Fortaleza que
têm rebatimento no mapa de saturação de tráfego, além de ter possibilitado a
informação de percursos a partir da configuração, confirmando o chamado efeito primário (influência da forma
sobre o movimento).
Outra verificação interessante
foi o aferimento de alta conectividade nos bairros Fátima, Meireles, Aldeota entre
outros nas imediações da Área Crítica de Congestionamentos, além de bairros
como Sapiranga e Manibura, situados no já conhecido eixo sudeste de expansão urbana.
A alta conexão entre vias nessas áreas favorece os fluxos e consequentemente a
disputa por espaço.
Em termos quantitativos, foi
obtido na correlação entre conectividade e congestionamentos na Área Crítica um
coeficiente de veracidade de 77%, e numa escala maior, da correlação entre
profundidade média e congestionamento na Av. Barão de Studart (inscrita na AC) obteve-se coeficiente de veracidade de 97%, em
ambos os casos sendo confirmada a relação entre parâmetros da configuração da
malha e congestionamentos.
Visando a associação do
aspecto de atratores aos estudos de demanda e oferta, Cavalcante obtém, por
meio de coleta de campo, as informações sobre uso e ocupação do solo em 27 vias
mais congestionadas no perímetro da Área Crítica obtendo, com auxilio do
software TransCAD, mapas que identificam os PGVs (seguindo a codificação da Lei
de Uso e Ocupação do Solo).
A partir da análise dos atratores
verificou-se, ao contrário do que descrevem os órgãos gestores, o aumento das
taxas de ocupação e índice de aproveitamento nos lotes de PGVs, que atraem
grande volume de pessoas e favorecem os congestionamentos, embora tais índices
não determinem quantitativamente o número de veículos alocados em
estacionamentos, espaços públicos e nas margens dos lotes, número esse que têm
impacto direto na possibilidade de transtornos de tráfego.
Em termos quantitativos,
observou-se na análise de atratores, uso e ocupação da Área Crítica, que 18%
dos veículos estacionados em areas públicas e nos lotes relacionam-se com
Comércio Varejista, atividade que não requer grandes áreas para impactar
negativamente o trânsito, dada a sua alta rotatividade. Viu-se também que 8%
dos veículos nas referidas circunstâncias estão relacionados a Serviços de
Saúde e Institucionais.
O autor conclui retomando a incapacidade dos modelos tradicionais de alocação de trafego em identificar
as contribuições da forma, uso e ocupação do solo no fenômeno dos
congestionamentos, bem como a necessidade de se aplicar a Teoria da Sintaxe
Espacial em ambiente SIG como ferramenta de atualização e complementação
das antigas técnicas nos orgãos de controle de tráfego, otimizando a previsão
de transtornos e embasando futuros planos de intervenção.
No fim da palestra, questionei sobre se os agentes políticos têm tomado conhecimento de pesquisas dessa natureza e caso sim, especialmente no caso de Fortaleza, como reagiram aos resultados, já que estes propõem um rompimento de paradigma em relação às antigas metodologias dos orgãos encarregados. Antônio Paulo respondeu que recentemente houve um feedback da Prefeitura de Fortaleza no sentido de dialogar a possibilidade de aplicação da pesquisa no gerenciamento municipal de tráfego.
BIBLIOGRAFIA
No fim da palestra, questionei sobre se os agentes políticos têm tomado conhecimento de pesquisas dessa natureza e caso sim, especialmente no caso de Fortaleza, como reagiram aos resultados, já que estes propõem um rompimento de paradigma em relação às antigas metodologias dos orgãos encarregados. Antônio Paulo respondeu que recentemente houve um feedback da Prefeitura de Fortaleza no sentido de dialogar a possibilidade de aplicação da pesquisa no gerenciamento municipal de tráfego.
BIBLIOGRAFIA
¹ REDE PGV. O que é um PGV.
Disponível em: http://redpgv.coppe.ufrj.br/arquivos/O_que_e_um_PGV.pdf
² SABOYA, Renato. Sintaxe Espacial.
Disponível em: http://urbanidades.arq.br/2007/09/sintaxe-espacial/
HOLANDA, Frederico. Ordem & Desordem: Arquitetura & Vida Social. In: CAVALCANTE, Antônio P. Hollanda. A arquitetura da cidade e os congestionamentos.
CARMO, Cássio. RAIA, Archimedes. NOGUEIRA, Adriana. Aplicações
da Sintaxe Espacial no planejamento da mobilidade urbana.