maio 23, 2010

Notas sobre a palestra de Nabil Bonduki (fau-usp) com o tema: Afonso Eduardo Reidy, Arquiteto de Espaços Públicos.

Por Luciana Ximenes.


Logo no início da palestra Nabil conta que foi devido a seus estudos sobre habitação popular que conheceu o trabalho de Reidy, dentre outros protagonistas da arquitetura moderna brasileira comprometidos com habitação.

Reidy começa a trabalhar na década de 30 e tem sua carreira encerrada com seu falecimento em 1964. É ressaltado que esse período de atuação profissional está inserido em uma época onde buscava-se ao máximo a integração co edifício com os espaços públicos. Por ter falecido em 64 Reidy não chegou a produzir no período da ditadura militar brasileira, diferentemente de outros grandes arquitetos modernistas.

Sua carreira destaca-se por ter sido traçada enquanto funcionário público, o que para muitos arquitetos era sinônimo de anonimato. Nabil enfatiza que Cármen Portinho, esposa de Reidy, teve fundamental importância em seu destaque profissional. Durante um longo período ela foi Secretária de Habitação do Rio de Janeiro, enquanto Reidy era secretário de Urbanismo no mesmo estado. Cármen publicou diversas obras de Reidy na Revista Municipal de Engenharia, isso lhe deu visibilidade e fez com que hoje vários de seus projetos estejam documentados.

Para introduzir a apresentação dos grandes projetos habitacionais de Reidy, Nabil inicia uma exposição de projetos habitacionais de referência. São eles:
Planta da Vila Zélia [www.prefeitura.sp.gov.br]



Foto da Vila [www.pucsp.br/artecidade]

Vila Maria Zélia
Obra dos anos vinte segue o modelo tradicional de conjunto habitacional com equipamentos comunitários como armazém, igreja, creche, escola. Este modelo de conjunto habitacional era muito usado e incentivado pela política pública da época.

Conjunto de Realengo
Obra também de autoria de arquitetos funcionário público. Caracteriza-se por ser um bloco de habitação solto da malha ortogonal tradicional. 

Conjunto Várzea do Carmo
Obra localizada em São Paulo, também solta da malha ortogonal da cidade.

Cidade Industrial
O conjunto localizado em Belo Horizonte, composto por blocos soltos em torno de um pátio central, segue ainda a idéia de blocos soltos da malha ortogonal.

Conjunto Passo d’Areia
Localizado em Porto Alegre, construído entre os anos de 1942 e 53. Composto por 2600 unidades, configura-se como um conjunto de estrutura tradicional.

Conjunto Residencial de Paquetá
Projeto do arquiteto Francisco Bolonha que atuou no Departamento de Habitação Popular ao lado de Reidy e Carmen Portinho. No projeto os blocos foram distribuídos de forma triangular. 


Foto do Conjunto residencial de Paquetá [www.vitruvius.com.br/revistas]

Planta de situação do Conjunto Residencial de Paquetá [Revista Municipal de Engenharia, 1953, p.3]


Posteriormente a estas obras temos Pedregulho, uma das grandes obras de Reidy. Ela é considerada por Nabil a obra que mais dialoga com o discurso moderno brasileiro, tanto nas diretrizes arquitetônicas quanto nas sociais. Reidy toma partido da plasticidade possibilitada pelo concreto e projeta um bloco que serpenteia o relevo do terreno. É notável a inspiração no projeto de Le Corbusier para a cidade do Rio de Janeiro. Nele também foi utilizada a idéia de unidade vizinhança, sendo o conjunto formado por habitação e os equipamentos necessários pra a vida comunitária. Na imagem abaixo podemos ver a distribuição desses equipamentos: 1. bloco habitacional, 2. escola, 3. centro sanitário, 4. blocos b1 e b2, 5. lavanderia e mercado.



Planta de situação do Pedregulho [www.br.geocities.com/reidy_web] 



Croqui de Le Corbusier para a cidade do Rio de Janeiro, 1929 [www.jauregui.arq.br]

O Pedregulho faz parte de um grupo de dez grandes projetos públicos habitacionais, dos quais somente três chegaram a ser construídos. A obra demorou cerca de 16 anos para ser concluída, teve início em 1946 e terminou em 1954. Foi alvo de muitas críticas por exigir um alto grau de sofisticação e não seguir o critério de reprodutividade, que para alguns é considerado necessário para habitação popular. A existência de um painel de Portinari na área comum do edifício exemplifica bem a sofisticação que Reidy procurou agregar ao prédio.

Nele, Reidy buscou aplicar os ideais de liberdade da mulher do trabalho doméstico, caracterizando um rompimento com o programa tradicional de habitação popular. No edifício existe uma grande lavanderia coletiva mecanizada e pequenas cozinhas particulares, em contraste com as grandes cozinhas tradicionais. Nabil acredita que isso é um reflexo da grande influência de Cármen Portinho nas obras de Reidy. 



Vista geral do conjunto [www.ladourbano.files.wordpress.com]

Logo após apresentar Pedregulho, Nabil expõem dois outros projetos de Reidy: conjunto habitacional na Gávea e a casa do casal. O conjunto da Gávea é bem mais simples e econômico que o Pedregulho, porém segue a mesma linguagem. Também é questionado por não seguir critérios de reprodutividade e padronização. Questiona-se Reidy considerou este aspecto durante a elaboração do projeto. 

O conjunto da Gávea é o que chegou mais perto de ser finalizado. Nele também é tratada a questão da liberação feminina do trabalho doméstico, possui uma lavanderia coletiva na cobertura do edifício com tanques (diferente de Pedregulho onde existem máquinas de lavar). 

Foto do edifício do Conjunto habitacional da Gávea [www.4.bp.blogspot.com] 

Por fim Nabil apresentou rapidamente a casa de Reidy e Cármen, ressaltando a influência de Lê Corbusier no aspecto formal da casa e a oposição a ideologia adotada pela Fundação de Habitação no período, na qual se defendia a inserção da habitação em grandes conjuntos e dentro do espaço urbano. 

Após a exposição destes projetos, a palestra foi encerrada com o questionamento: até onde vai a importância da reprodutividade em habitação popular?














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