setembro 14, 2011

Curso de Capacitação para Moradores do Lagamar

por Luna Lyra


Sábado, 10, o Programa Direito à Arquitetura e ao Urbanismo – DAU-PROEXT, junto ao ArqPET e ao Canto –EMAU-UFC, teve a primeira aula do curso de capacitação sobre planejamento urbano para moradores da comunidade do Lagamar.


Após uma rodada de apresentações, fala-se sobre o que é o curso. Para quê se capacitar? Para aprender a dialogar: é esse o foco do debate, só conseguimos dialogar se temos acesso ao conhecimento. Assim, a extensão, o ir para além dos muros da Universidade [conhecer e ser conhecido], justifica os árduos momentos de aprendizagem em sala de aula e de pesquisa nas horas extras.

A aula segue com muitas perguntas sobre ZEIS, sobre remoções e o direito de ficar ali, nas suas casas. De novo, a pergunta: para que serve o curso? E os alunos mesmos respondem: para não deixar que sejamos enganados, ou para que o governo não faça mal feito e economize dinheiro com projetos ruins. Dona Raimunda, moradora há mais de 30 anos ali, conta de vez em quando um pouco da história do lugar. Fala sobre as enchentes, sobre as lutas, como tudo virou o que é hoje. O professor Renato atenta: é preciso conhecer o passado para planejar o futuro.


O professor Renato entra então na questão central do dia: o que é cidade?


A resposta demora, mas sai aos poucos: é um monte de bairros, cheia de partes, é um lugar com muitas favelas, gente excluída e incluída.


A cidade é na verdade tudo isso e mais um pouco. Entramos na questão centro-periferia, nas oportunidades. Tudo isso sempre se conectando com a realidade do lugar. Fala-se do valor da terra, o porquê do Lagamar ser tão cobiçado: é bem localizado, diz alguém. Aqui, de repente, todo mundo quer falar, compartilhar alguma experiência.


Num tom de alerta e desabafo, o Marcelo fala sobre ser difícil vencer a especulação, o mercado é muito poderoso, e as pessoas daqui se iludem com o pouco dinheiro. Será que ainda vale lutar? Mas daí o Sudário diz que tem quem queira ficar, e esses vão lutar, eles têm direito de ficar. A professora Clarissa lembra: houve conquistas. É preciso lembrar sempre das conquistas, a ZEIS é uma conquista, os 30 anos que a Dona Raimunda lutou foram cheios delas, por isso vocês estão aqui ainda.


O curso deve formar multiplicadores, é impossível capacitar todos. Os alunos têm esse dever de passar para a frente, assim como nós estamos fazendo, extensionando. E a conversa segue, passa pelo movimento social, as dificuldades de engajar as pessoas [que é em qualquer lugar, qualquer meio, bem sabemos!], fala-se sobre a importância dos meios de comunicação para sensibilizar, e, por fim, voltamos à questão inicial. Del diz que o mais difícil é que a linguagem das coisas, do plano diretor, do engenheiro que vai medir, de tudo, é muito técnica, inacessível a eles. Como podemos compreender, discutir?


É preciso, então, capacitar.


Como despedida, uma palavra para reflexão: sensibilizar; e duas tarefas de casa: tentar explicar para alguém o que é ZEIS e escrever alguma parte que se saiba sobre a história do lagamar. A verdade é que todos saíram dali, eu arrisco dizer, com o peito cheio e uma vontade de voltar. Foi uma conversa honesta, generosa. Que bom, que bom, estou ansiosa pela próxima. Para ouvir mais e aprender mais.



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